25 agosto, 2012

Duas Lágrimas



Desde de muito cedo ele acreditava em contos de fadas, acreditava em mundos mágicos em que criaturas belas e místicas comandavam a vida de pessoas comuns e nada poderia dá errado. Ele acreditava que o grande senhor Destino agia sobre sua vida. "Não precisa se apressar", dizia ele com calma, "a vida segue e tem um plano para nos". Acreditava que nada poderia dá errado, vivia cercado pela falsa esperança e pelo falso mundo perfeito vendido pelos programas de televisão, dos quais ele não desgrudava. Acreditava que o amanhã sempre seria melhor que o hoje, e sempre esquecia do hoje.

Ele cresceu vivendo em seu próprio mundo de fantasia, com a falsa impressão de que a vida séria um conto de fadas. O amor o encontraria em alguma esquina, e o faria feliz. Toda a felicidade que, na cabeça dele, todo mundo tinha direito, estava só o esperando em algum lugar. Um lugar muito próximo, e não demoraria para chegar. A felicidade ao qual ele tanto procurava era na verdade o amor. Uma forma de amor que ele imaginava que existia, que ele próprio criou através do que via pela janela do seu mundo de fantasia. 

Não demorou muito e ele descobriu, para a sua tristeza, que tudo aquilo que ele achava que era real, que era bonito, na verdade não existia. Tudo não passava de mais um delírio seu. Um dos muitos que o acompanharam sua vida inteira e que ao poucos, ao longo do tempo, foram destruídos, foram quebrando como um espelho rajado, cada pedacinho representando uma de suas ilusões, cada pedacinho representando uma parte do mundo criado por ele mesmo. Todo o seu mundo, que um dia foi seguro e confiável, caindo aos poucos. A cada desilusão, uma parte desse espelho era quebrada. Ele ficava exposto cada vez mais.

Aos poucos não existia mais uma barreira entre ele e o mundo real. Aos poucos, tudo aquilo que ele acreditava, foi apagado de sua mente. Ele não mais estava esperando pelo amor que outrora aguardava ansiosamente. Ele agora estava com uma ferida no lugar do coração, que parecia não sarar nunca, por mais que ele tentasse. Era isso que para ele significava o amor agora, aquele amor bonito com final feliz, agora virou uma ferida, virou dor, virou um rasgo no coração, tudo que era associado a felicidade, agora era igual a tristeza, e isso era uma coisa que ele não queria. Por isso ele deixou de procurar pelo amor. O mundo de conto de fadas estava acabado. Parecia que finalmente ele tinha crescido e entendido uma parte do mundo. Ele ainda estava triste, mas continuaria, agora sem estar preso em seu mundo,a tentar aprender mais sobre o amor, o amor do mundo real, que parecia não existir de verdade, mas ele não queria acreditar nisso. 


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O autor

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Um ser vindo de outro planeta, tentado aprender a como se comportar nesse lugar estranho e hostil. Um cineasta em formação e um escritor frustado.