18 agosto, 2012

Porto Seguro



Completar vinte anos não foi tão difícil quanto imaginava, afinal. Atravessei aquela linha que estava dividindo a minha vida. Cruzei com medo, para isso precisei de meus amigos, meu porto seguro, segurando a mão de cada um, contando com o apoio de cada um deles, consegui passar pela linha divisória, uma linha tênue, porém, muito difícil de ser atravessada quando se está com medo. Com ajuda do destino um dos pilares do porto seguro estaria ali quase que exclusivamente para me iniciar na minha nova vida. 

Não demorou muito e aquilo que eu mais desejei aconteceu. O coração, que há muito tempo achava que não batia, que há muito tempo achava que não encontraria uma função ideal, bateu forte, bombeou sangue para todo o corpo e escolheu um dono para se apoderar dele, estava completa a minha passagem. 

Doeu. Doeu muito. Sofri. Sofri muito. Mas tinha uma coisa de diferente no modo que sofri. Dessa vez não estava sozinho. Dessa vez estava no outro lado, no outro lado da linha, a linha que dividiu e esperou os vinte anos chegarem para se manifestar. Tinha meu porto seguro, o porto seguro que se dividiu em várias partes sólidas. O sofrimento passou. O porto seguro se desfez para encontrar em mim mesmo a força fortalecedora que dele emanava. Eu virei o porto seguro. As partes que o compõem ainda estão em minha volta, mas não são mais parte integrante dele. Eu virei o porto seguro. 

Aprendi a lidar com o sofrimento e aprendo todo dia. Mas, o melhor presente que posso lembrar de ter ganho nesses vinte anos, foi esse porto seguro. Esperou vinte anos. Esperou todos os meus medos se colidirem de uma vez. Esperou tudo se desmoronar. Aí ele chegou. Chegou de mansinho. Chegou sem fazer barulho. Meu porto seguro, chegou. Meu porto seguro se juntou a mim. Eu sou meu porto seguro agora. 

Ainda tenho medo dos próximos dez anos. Ainda tenho medo de que todo esse mundo irá se desmoronar. Ainda tenho medo de não realizar aquilo tudo que planejei e planejo para a minha vida. Ainda tenho medo de perder tudo. Ainda tempo medo de não ser feliz. Mas sei que esse medo, não me domina mais. Sei que esse medo é só uma espécie de coragem invertida, para que eu possa seguir em frente e ter o que temer. Seguir em frente sabendo que posso tropeçar em uma pedra no caminho. Mas essa pedra será pequena. Essa pedra sairá do caminho, virá outra pedra, ainda maior, mas ela também se afastará do caminho. Por que agora eu sou meu porto seguro.  Agora, finalmente, eu confio em mim, no meu porto seguro, para continuar em frente, de cabeça erguida, chutando as pedras e seguindo em frente. 

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O autor

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Um ser vindo de outro planeta, tentado aprender a como se comportar nesse lugar estranho e hostil. Um cineasta em formação e um escritor frustado.